Resumo: Uma influente plataforma de notícias de extrema-direita na Índia, chamada OpIndia, está espalhando conspirações racistas e desinformação, principalmente direcionadas à população muçulmana minoritária. Apesar das regras contra discurso de ódio e desinformação, gigantes de tecnologia dos EUA, como Google, Facebook e X, continuam monetizando e dando plataforma para o site.
3 Principais Pontos:
- O site OpIndia é conhecido por espalhar teorias da conspiração e desinformação sobre minorias muçulmanas na Índia, com apoio de membros do partido nacionalista hindu BJP.
- Apesar de violar políticas contra discurso de ódio e desinformação, empresas de tecnologia dos EUA, como Google, Facebook e X, continuam permitindo a monetização do OpIndia em suas plataformas.
- Ativistas e pesquisadores alertam que a desinformação do OpIndia pode minar ainda mais a confiança no processo democrático indiano, já abalado por narrativas antimuçulmanas do governo Modi.
Uma influente plataforma de notícias de extrema-direita na Índia está espalhando conspirações racistas e desinformação, principalmente direcionadas à população muçulmana minoritária do país. Apesar das regras contra discurso de ódio e desinformação, gigantes de tecnologia dos EUA, como Google, Facebook e X, continuam monetizando e dando plataforma para o site.
OpIndia: Um Portal de Desinformação Antimuçulmana
Fundado em 2014, o site OpIndia é regularmente citado por legisladores influentes do partido nacionalista hindu BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi. O próprio site admite ser parcialmente financiado por anúncios do BJP. Com centenas de milhões de indianos votando nas eleições em todo o país, críticos temem que a desinformação eleitoral e o apoio aberto ao governo Modi pelo OpIndia possam minar ainda mais a confiança no processo democrático.
O site já ecoou a controversa descrição de Modi sobre o voto muçulmano como “jihad do voto”. Além disso, o OpIndia rotineiramente ataca jornalistas e veículos críticos ao governo, espalhando teorias conspiratórias e, por vezes, desinformação completa, particularmente sobre a minoria muçulmana.
Ataques Sistemáticos a Fact-Checkers e Jornalistas
Pratik Sinha e Mohammed Zubair, cofundadores do site de fact-checking AltNews, foram persistentemente alvos de ataques virulentos do OpIndia. Em vários títulos, o site descreveu Zubair como um “islamista” espalhando fake news e alegou falsamente que ele era um muçulmano rohingya que migrou ilegalmente para a Índia.
“Seu trabalho é difamar qualquer um que seja crítico do governo, e é isso que eles fazem”, diz Sinha.
Narrativas Venenosas Impulsionadas por Tecnologia
Apesar dos esforços de ativistas para desmonetizar o site e do fato de que publicações parceiras de uma iniciativa de fact-checking eleitoral apoiada pelo Google terem desmentido rotineiramente os artigos do OpIndia, o site continua operando graças, em parte, aos anúncios que a plataforma de anúncios do Google coloca ao lado de seu conteúdo.
No Facebook, o OpIndia mantém páginas em inglês e hindi, com centenas de milhares de seguidores. No X (antigo Twitter), o site é altamente ativo, com sua conta oficial tendo 688 mil inscritos.
Responsabilidade das Gigantes de Tecnologia
“As próprias políticas de publicador do Google proíbem a monetização de conteúdo que incita ódio, racismo e promove discriminação”, afirma Sarah Kay Wiley, diretora de políticas e parcerias da Check My Ads, uma organização sem fins lucrativos de vigilância de publicidade digital.
Outras plataformas de anúncios, como a Magnite, já descontinuaram o trabalho com o OpIndia. Se o Google também parasse de trabalhar com o site, “certamente teria um impacto material”, acrescenta Wiley.
Apoio do Governo ao OpIndia
Além da monetização por anúncios, parte do financiamento do OpIndia parece vir de uma fonte mais tradicional: anúncios do próprio governo indiano. A editora-chefe do site, Nupur Sharma, admitiu que o OpIndia depende parcialmente de anúncios do governo.
Em 2019, o BJP chegou a pedir diretamente ao Facebook que permitisse a monetização do OpIndia na plataforma.
Consequências Democráticas da Desinformação
“O objetivo é amplificar essa desinformação, e você tem líderes do BJP compartilhando esses artigos, então as pessoas pensam que é autêntico”, diz Raqib Hameed Naik, jornalista indiano e fundador do India Hate Lab.
“A longo prazo, isso constrói um caso contra um crítico, um jornalista, de que essa pessoa é ruim, porque há reportagens contra ela.”
Retóricas Negacionistas do Ódio
Quando contatada pela WIRED, Nupur Sharma negou veementemente as acusações de discurso de ódio e desinformação. “Nossos críticos são principalmente islamitas, jihadistas, terroristas, esquerdistas e seus simpatizantes”, escreveu ela. “A islamofobia não existe.”
Essa postura negacionista e os ataques pessoais de Sharma contra jornalistas exemplificam as táticas agressivas do OpIndia para desacreditar críticos e propagar sua agenda.
Um Modelo de Negócios Nocivo
“O modelo de negócios da internet, no fim das contas, é publicidade, e o que estamos vendo repetidamente é que esse modelo está quebrado”, diz Wiley. “Os anunciantes não sabem onde seu dinheiro está indo. E o maior problema é que muito disso está sendo canalizado para desinformação em massa online.”
Com o apoio de gigantes de tecnologia e do próprio governo indiano, o OpIndia representa um desafio crescente para o jornalismo factual e a democracia no país.
Conclusão
À medida que a Índia navega por eleições cruciais, o caso do OpIndia destaca os perigos da desinformação impulsionada por algoritmos e a necessidade urgente de que empresas de tecnologia assumam responsabilidade pelos conteúdos que hospedam e monetizam. A liberdade de expressão é um pilar da democracia, mas a propagação de ódio e mentiras pode corroer essa mesma democracia por dentro.